top of page

Supere: você sempre será um brasileiro falando outro idioma

  • Foto do escritor: Amanda Damasseno
    Amanda Damasseno
  • 10 de jun. de 2019
  • 3 min de leitura

Não tem problema nenhum você falar inglês com aquele sotaque brasileiro ou abrir a boca em qualquer idioma e já saberem de onde você é. Nascer em um país e aprender outra língua depois de adulto é mérito seu e não motivo de vergonha!


ree

Por trabalhar com língua estrangeira, as minhas redes sociais costumam me bombardear de anúncios de outros professores e cursos de língua. Muitos deles (para não dizer a maioria) aparecem com dicas - algumas vezes muito interessantes - de como pronunciar determinados sons ou construir determinadas frases. Tudo parece muito inocente, um professor que te dá uma dica e logo em seguida te convida para fazer o curso dele.


No entanto, alguns desses anúncios vêm recheados de mentiras ou até mesmo de preconceito linguístico. Em um mais recente, um professor diz que você poderia falar igual a um nativo em poucos meses fazendo o curso dele. Já comentei em um texto anterior que é preciso cuidar esses cursos que prometem fazer milagres em pouco tempo, agora parece interessante tratar dessa ideia de "falar como um nativo".


Acredito que esse "fetiche" venha de um preconceito e até da vontade de apagar as nossas raízes quando estamos falando em outro idioma. É como se fosse um desejo absurdo de não ser brasileiro e abraçar de forma incondicional a cultura do outro, mostrando todo o nosso complexo de vira-lata.


A verdade é que por melhor que você fale, ainda que treine sua pronúncia incessantemente e que por mais próximo que consiga chegar de um nativo, não há como apagar toda a sua bagagem cultural ao aprender um idioma. O seu idioma nativo ajuda muito a aprender o estrangeiro já que você parte dele para aprender.


Para aprender uma expressão idiomática, por exemplo, você precisa entender o contexto, a vivência na qual ela é baseada. Algumas vivências são semelhantes em diversos países e estabelecem expressões muito parecidas, logo a sua bagagem cultural, a sua experiência de vida (e com o seu idioma) vai ser essencial na hora de assimilar o significado que você está procurando. Além disso, você abre um leque a mais: não somente usa a expressão, você entende o contexto cultural em que ela é usada.


Quanto a pronúncia, é preciso entender que nosso aparelho fonador (aquele que incluí tudo que usamos para produzir os sons da nossa língua) se acostuma com os sons que produzimos em nosso idioma. Sendo assim, o seu corpo está treinado a fazer e reconhecer alguns sons e, quando você tenta produzir ou escutar um som inédito, seus recursos linguísticos tentam colocar em uma caixinha familiar.


Logo, é fácil para os brasileiros produzirem as 5 vogais do espanhol - já que fonologicamente temos 7 no português, porém é difícil produzir aquele erre bem vibrante de "perro", por exemplo. No inglês, é relativamente tranquilo para quem vive em algumas regiões do Brasil o erre de "car", ao mesmo tempo em que não é tão fácil assimilarmos os diferentes sons que o "a" tem nas palavras "made" e "mad".


Poderia citar aqui as vogais do francês também e até a forma diferente de respirar para falar algumas línguas asiáticas. Tudo para provar que não somos inaptos ao termos dificuldade de pronunciar um som tal qual aos nativos, mas que nosso aparelho fonador tende a buscar o que é mais familiar na nossa língua. Portanto, não se cobre tanto, faça tão próximo você conseguir, se olhe no espelho pronunciando, perceba as diferenças, mas lembre-se: seu aparelho fonador foi formado com o português do Brasil.


Um fator que se assevera em uma época de bastante xenofobia é que quando você está no exterior e fala com sotaque, principalmente de línguas latinas, acaba sofrendo preconceito de todos os tipos. Por isso, não é incomum esse sentimento de impotência e até mesmo de medo de ter marcado em sua fala o seu "não pertencimento". Porém, em tempos de ódio, é preciso abraçar a sua cultura e mostrar que o que você diz é muito mais importante do que como você pronuncia.

Commentaires


Post: Blog2_Post
bottom of page