Eu preciso exercitar mais o "Não!"
- Amanda Damasseno
- 8 de jul. de 2019
- 2 min de leitura

Dizer "não!" deveria ser menos complicado. Sua boca se mexe, começando com a língua nos alvéolos e terminando de forma bem sonora. Mas, o meu maior desafio na vida tem sido aprender a dizer essa palavrinha de forma tão categórica que a outra pessoa entenda que não é realmente "não!"
Algumas semanas atrás estive no que considerei o meu pior date de todos os tempos. O cara simplesmente não me deixava falar nada, me dava sermões aleatórios e queria me ensinar a mochilar. Obviamente fiquei muito puta com a situação e quando ele perguntou se eu queria pedir mais uma cerveja minha resposta foi um sonoro e categórico "não!".
Aproveitei a deixa, disse que aquilo não iria dar em nada porque eu não gostei nada da atitude dele. Ele, então, colocou as mãos em cima da mesa e pediu para eu colocar as mão em cima da dele, ouvindo outro sonoro "não!". Ele me pediu para não ir embora, que iria parar e se comportar (eu já havia advertido ele diversas vezes com "posso falar agora?") e ouviu mais um "não!".
Pode parecer bobo, mas essa foi uma das poucas vezes em que um não tão categórico saiu da minha boca para o ouvido de um cara. Um "não!" com total intenção de ser um não. Uma das coisas que sempre acontece comigo é inventar uma desculpa para não magoar o cara: "estou com sono", "preciso acordar cedo amanhã", "tenho namorado", "te achei legal, mas estou em uma época complicada".
É tão difícil ser mulher e ir direto ao ponto? "Não! não vou sair mais contigo", "Não!" não gostei da tua atitude", "Não! não tenho interesse" "Não! eu não gozei". São tantas mentiras que a gente acaba até um pouco engasgada nos próprios sentimentos e já nem sabe o que realmente quer dizer.
Sei que existe diversas explicações para uma mulher não exercitar essa palavrinha, inclusive por questões de segurança. Criaram homens tão acostumados a ouvir "sim", que eles ficam agressivos quando ouvem um "não!", ou até mesmo acham que esse advérbio tem o seu sentido oposto.
A verdade é que o meu "não!" foi libertador. Eu preciso exercitar mais o "Não!", desengasgar a vontade, me conhecer mais, ser menos polida. Dizer "não!" é uma das formas de se desemaranhar do patriarcado e, por que não, ser mais firme nas vontades de mulher.
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